Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões
intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais
alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa
bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é
entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e
maltrato.
"É
uma das formas de violência que mais cresce no mundo", afirma Cléo Fante,
educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas
Escolas e Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868 ).
Segundo a especialista, o bullying pode ocorrer em qualquer contexto social,
como escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à
primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional
e fisicamente o alvo da ofensa.
2. O que não é
bullying?
Discussões ou brigas pontuais não são bullying.
Conflitos entre professor e aluno ou aluno e gestor também não são considerados
bullying. Para que seja bullying, é necessário que a agressão ocorra entre pares
(colegas de classe ou de trabalho, por exemplo). Todo bullying é uma agressão,
mas nem toda a agressão é classificada como bullying. Para Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para ser dada como bullying, a agressão física ou moral deve apresentar quatro características: a intenção do autor em ferir o alvo, a repetição da agressão, a presença de um público espectador e a concordância do alvo com relação à ofensa. ''Quando o alvo supera o motivo da agressão, ele reage ou ignora, desmotivando a ação do autor'', explica a especialista.
3. O bullying
é um fenômeno recente?
Não. O bullying sempre
existiu. No
entanto, o primeiro a relacionar a palavra a um fenômeno foi Dan Olweus,
professor da Universidade da Noruega, no fim da década de 1970. Ao estudar as
tendências suicidas entre adolescentes, o pesquisador descobriu que a maioria
desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, o bullying era
um mal a combater.
4. O que leva o autor do bullying a praticá-lo?
Querer ser mais popular, sentir-se
poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo.
Isso tudo leva o autor do
bullying a atingir o colega com repetidas humilhações ou depreciações. É uma
pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o
sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário,
sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo ou antecipando quão
dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima.
''O autor não é assim apenas na
escola. Normalmente ele tem uma relação familiar na qual tudo se resolve pela
violência verbal ou física e ele reproduz isso no ambiente escolar'', explica o
médico pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência
(Abrapia).
Sozinha, a escola não consegue
resolver o problema, mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram os
primeiros sinais de um praticante de bullying. "A tendência é que ele seja assim
por toda a vida, a menos que seja tratado", diz.
5. O
espectador também participa do bullying?
Sim. O espectador é um personagem
fundamental no bullying. É comum pensar que há apenas
dois envolvidos no conflito: o autor e o alvo. Mas os especialistas alertam para
um terceiro personagem responsável pela continuidade do
conflito.
Os que atuam como plateia ativa ou como torcida, reforçando a agressão, rindo ou dizendo palavras de incentivo também são considerados espectadores. Eles retransmitem imagens ou fofocas. Geralmente, estão acostumados com a prática, encarando-a como natural dentro do ambiente escolar. ''O espectador se fecha aos relacionamentos, se exclui porque ele acha que pode sofrer também no futuro.
Se for pela internet, por exemplo,
ele ‘apenas’ repassa a informação. Mas isso o torna um coautor'', explica a
pesquisadora Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como
Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus,
tel. (19) 4009-6868).
6. Como
identificar o alvo do bullying?
O alvo costuma ser uma criança com
baixa autoestima e retraída tanto na escola quanto no lar. ''Por essas características, é
difícil esse jovem conseguir reagir'', afirma o pediatra Lauro Monteiro Filho.
Aí é que entra a questão da repetição no bullying, pois se o aluno procura
ajuda, a tendência é que a provocação cesse.
Além dos traços psicológicos, os
alvos desse tipo de violência costumam apresentar particularidades físicas. As
agressões podem ainda abordar aspectos culturais, étnicos e
religiosos."Também pode ocorrer com um novato ou com uma menina bonita, que acaba sendo perseguida pelas colegas", exemplifica Guilherme Schelb, procurador da República e autor do livro Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil (164 págs., Thesaurus Editora tel. (61) 3344-3738).
7. Quais são as consequências para o aluno que é alvo de bullying?
O aluno que sofre bullying,
principalmente quando não pede ajuda, enfrenta medo e vergonha de ir à escola.
Pode querer abandonar os estudos, não se achar bom para integrar o grupo e
apresentar baixo rendimento.
Uma pesquisa da Associação
Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia)
revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema,
nem mesmo com os colegas.
As vítimas chegam a concordar com
a agressão, de acordo com Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e
pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinhas
(Unicamp). O discurso deles segue no seguinte sentido: "Se sou gorda, por que
vou dizer o contrário?"
Aqueles que conseguem reagir podem
alternar momentos de ansiedade e agressividade. Para mostrar que não são
covardes ou quando percebem que seus agressores ficaram impunes, os alvos podem
escolher outras pessoas mais indefesas e passam a provocá-las, tornando-se alvo
e agressor ao mesmo tempo.
8. O que é
pior: o bullying com agressão física ou o bullying com agressão
moral?
Ambas as agressões são graves e
têm danos nocivos ao alvo do bullying. Por ter consequências imediatas e
facilmente visíveis, a violência física muitas vezes é considerada mais grave do
que um xingamento ou uma fofoca.
''A dificuldade que a escola
encontra é justamente porque o professor também vê uma blusa rasgada ou um
material furtado como algo concreto. Não percebe que a uma exclusão, por
exemplo, é tão dolorida quanto ou até mais'', explica Telma Vinha, doutora em
Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
Os jovens também podem repetir
esse mesmo raciocínio e a escola deve permanecer alerta aos comportamentos
moralmente abusivos.
9. Existe
diferença entre o bullying praticado por meninos e por
meninas?
De modo geral,
sim. As
ações dos meninos são mais expansivas e agressivas, portanto, mais fáceis de
identificar. Eles chutam, gritam, empurram, batem.
Já no universo feminino o problema
se apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem ser
fofocas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. "As garotas raramente dizem por
que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada", explica a
pesquisadora norte-americana Rachel Simmons, especialista em bullying
feminino.
Ela conta que as meninas agem
dessa maneira porque a expectativa da sociedade é de que sejam boazinhas, dóceis
e sempre passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas utilizam
meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. "É preciso reconhecer que as
garotas também sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas
são forçadas a encontrar outros meios - além dos físicos - para se expressar",
diz Rachel.
10. O que
fazer em sala de aula quando se identifica um caso de
bullying?
Ao surgir uma situação em sala, a
intervenção deve ser imediata. "Se algo ocorre e o professor se
omite ou até mesmo dá uma risadinha por causa de uma piada ou de um comentário,
vai pelo caminho errado. Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o
exemplo", diz Aramis Lopes Neto, presidente do Departamento Científico de
Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de
Pediatria.
O professor pode identificar os
atores do bullying: autores, espectadores e alvos. Claro que existem as
brincadeiras entre colegas no ambiente escolar. Mas é necessário distinguir o
limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. "Isso não é tão difícil como
parece. Basta que o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é
engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse chamado assim?", orienta o pediatra
Lauro Monteiro Filho.
Veja os conselhos dos
especialistas Cléo Fante e José Augusto Pedra, autores do livro Bullying
Escolar (132 págs., Ed. Artmed, tel; 0800 703
3444):
- Incentivar a solidariedade, a
generosidade e o respeito às diferenças por meio de conversas, campanhas de
incentivo à paz e à tolerância, trabalhos didáticos, como atividades de
cooperação e interpretação de diferentes papéis em um
conflito;
- Desenvolver em sala de aula um
ambiente favorável à comunicação entre alunos;
- Quando um estudante reclamar de
algo ou denunciar o bullying, procurar imediatamente a direção da
escola.
11. Qual o
papel do professor em conflitos fora da sala de aula?
O professor é um exemplo
fundamental de pessoa que não resolve conflitos com a
violência. Não adianta, porém, pensar que o
bullying só é problema dos educadores quando ocorre do portão para dentro. É
papel da escola construir uma comunidade na qual todas as relações são
respeitosas.
''Deve-se conscientizar os pais e
os alunos sobre os efeitos das agressões fora do ambiente escolar, como na
internet, por exemplo'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação ''As
relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral'', da
Universidade de Franca (Unifran).
''A intervenção da escola também
precisa chegar ao espectador, o agente que aplaude a ação do autor é fundamental
para a ocorrência da agressão'', complementa a especialista.
12. O
professor também é alvo de bullying?
Conceitualmente, não, pois, para
ser considerada bullying, é necessário que a violência ocorra entre pares, como
colegas de classe ou de trabalho. O professor pode, então, sofrer
outros tipos de agressão, como injúria ou difamação ou até física, por parte de
um ou mais alunos.
Mesmo não sendo entendida como
bullying, trata-se de uma situação que exige a reflexão sobre o convívio entre
membros da comunidade escolar. Quando as agressões ocorrem, o problema está na
escola como um todo. Em uma reunião com todos os educadores, pode-se descobrir
se a violência está acontecendo com outras pessoas da equipe para intervir e
restabelecer as noções de respeito.
Se for uma questão pontual, com um
professor apenas, é necessário refletir sobre a relação entre o docente e o
aluno ou a classe. ''O jovem que faz esse tipo de coisa normalmente quer expor
uma relação com o professor que não está bem. Existem comunidades na internet,
por exemplo, que homenageiam os docentes. Então, se o aluno se sente respeitado
pelo professor, qual o motivo de agredi-lo?'', questiona Adriana Ramos,
pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do
curso de pós-graduação "As relações interpessoais na escola e a construção da
autonomia moral", da Universidade de Franca (Unifran).
O professor é uma autoridade na
sala de aula, mas essa autoridade só é legitimada com o reconhecimento dos
alunos em uma relação de respeito mútua. ''O jovem está em processo de formação
e o educador é o adulto do conflito e precisa reagir com dignidade'', afirma
Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de
Educação da Unicamp.
13. O que
fazer para evitar o bullying?
A Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) sugere as
seguintes atitudes para um ambiente saudável na escola:
- Conversar com os alunos e
escutar atentamente reclamações ou sugestões;
- Estimular os estudantes a
informar os casos;
- Reconhecer e valorizar as
atitudes da garotada no combate ao problema;
- Criar com os estudantes regras
de disciplina para a classe em coerência com o regimento
escolar;
- Estimular lideranças positivas
entre os alunos, prevenindo futuros casos;
- Interferir diretamente nos
grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica do
bullying.
Todo ambiente escolar pode
apresentar esse problema. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o
que é ou está negando sua existência", diz o pediatra Lauro Monteiro Filho,
fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e
Adolescência (Abrapia). O primeiro passo é admitir que a escola é um local
passível de bullying. Deve-se também informar professores e alunos sobre o que é
o problema e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a
prática.
"A escola não deve ser apenas um
local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres,
amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e
eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade", afirma o
pediatra.
14. Como agir
com os alunos envolvidos em um caso de bullying?
O foco deve se voltar para a
recuperação de valores essenciais, como o respeito pelo que o alvo sentiu ao
sofrer a violência. A escola não pode legitimar a
atuação do autor da agressão nem humilhá-lo ou puni-lo com medidas não
relacionadas ao mal causado, como proibi-lo de frequentar o
intervalo.
Já o alvo precisa ter a autoestima
fortalecida e sentir que está em um lugar seguro para falar sobre o ocorrido.
"Às vezes, quando o aluno resolve conversar, não recebe a atenção necessária,
pois a escola não acha o problema grave e deixa passar", alerta Aramis Lopes,
presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente
da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Ainda é preciso conscientizar o
espectador do bullying, que endossa a ação do autor. ''Trazer para a aula
situações hipotéticas, como realizar atividades com trocas de papéis, são ações
que ajudam a conscientizar toda a turma.
A exibição de filmes que retratam
o bullying, como ''As melhores coisas do mundo'' (Brasil, 2010), da
cineasta Laís Bodanzky, também ajudam no trabalho. A partir do momento em que a
escola fala com quem assiste à violência, ele para de aplaudir e o autor perde
sua fama'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação ''As relações
interpessoais na escola e a construção da autonomia moral'', da Universidade de
Franca (Unifran).
15. Como
lidar com o bullying contra alunos com deficiência?
Conversar abertamente sobre a
deficiência é uma ação que deve ser cotidiana
na escola. O bullying contra esse público costuma ser estimulado pela falta de
conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em
boa parte, pelo preconceito trazido de casa.
De acordo com a psicóloga Sônia
Casarin, diretora do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down,
em São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação
desconhecida. Cabe ao educador estabelecer limites para essas reações e buscar
erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do
esclarecimento.
Não se trata de estabelecer
vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação
polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas
culpar um aluno e vitimar o outro é desatar os nós da tensão por meio do
diálogo. A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser
um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos educadores oferecer um
ambiente propício para que todos, especialmente os que têm deficiência, se
desenvolvam. Com respeito e harmonia.
16. Como deve
ser uma conversa com os pais dos alunos envolvidos no
bullying?
É preciso mediar a conversa e
evitar o tom de acusação de ambos os lados. Esse tipo de abordagem não mostra
como o outro se sente ao sofrer bullying. Deve ser sinalizado aos pais que
alguns comentários simples, que julgam inofensivos e divertidos, são carregados
de ideias preconceituosas.
''O ideal é que a questão da
reparação da violência passe por um acordo conjunto entre os envolvidos, no qual
todos consigam enxergar em que ponto o alvo foi agredido para, assim, restaurar
a relação de respeito'' explica Telma Vinha, professora do Departamento de
Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp).
Muitas vezes, a escola trata de
forma inadequada os casos relatados por pais e alunos, responsabilizando a
família pelo problema. É papel dos educadores sempre dialogar com os pais sobre
os conflitos - seja o filho alvo ou autor do bullying, pois ambos precisam de
ajuda e apoio psicológico.
17. O que
fazer em casos extremos de bullying?
A primeira ação deve ser mostrar
aos envolvidos que a escola não tolera determinado tipo de conduta e por
quê. Nesse
encontro, deve-se abordar a questão da tolerância ao diferente e do respeito por
todos, inclusive com os pais dos alunos envolvidos.
Mais agressões ou ações impulsivas
entre os envolvidos podem ser evitadas com espaços para diálogo. Uma conversa
individual com cada um funciona como um desabafo e é função do educador mostrar
que ninguém está desamparado.
''Os alunos e os pais têm a
sensação de impotência e a escola não pode deixá-los abandonados. É mais fácil
responsabilizar a família, mas isso não contribui para a resolução de um
conflito'', diz Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da
Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp).
A especialista também aponta que a
conversa em conjunto, com todos os envolvidos, não pode ser feita em tom de
acusação. ''Deve-se pensar em maneiras de mostrar como o alvo do bullying se
sente com a agressão e chegar a um acordo em conjunto. E, depois de alguns dias,
vale perguntar novamente como está a relação entre os envolvidos'', explica
Telma.
É também essencial que o trabalho
de conscientização seja feito também com os espectadores do bullying, aqueles
que endossam a agressão e os que a assistem passivamente. Sem que a plateia
entenda quão nociva a violência pode ser, ela se repetirá em outras
ocasiões.
18. Bullying
na Educação Infantil. É possível?
Sim, se houver a intenção de ferir
ou humilhar o colega repetidas vezes. Entre as crianças menores, é
comum que as brigas estejam relacionadas às disputas de território, de posse ou
de atenção - o que não caracteriza o bullying. No entanto, por exemplo, se uma
criança apresentar alguma particularidade, como não conseguir segurar o xixi, e
os colegas a segregarem por isso ou darem apelidos para ofendê-la
constantemente, trata-se de um caso de bullying.
"Há estudos na Psicologia que
afirmam que, por volta dos dois anos de idade, há uma primeira tomada de
consciência de 'quem eu sou', separada de outros objetos, como a
mãe.
E perto dos 3 anos, as crianças
começam a se identificar como um indivíduo diferente do outro, sendo possível
que uma criança seja alvo ou vítima de bullying. Essa conduta, porém, será mais
frequentes num momento em que houver uma maior relação entre pares, mais
cotidiana e estabelecida com os outros'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de
pós-graduação As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia
moral", da Universidade de Franca (Unifran).
19. Quais são
as especificidades para lidar com o bullying na Educação
Infantil?
Para evitar o bullying, é preciso
que a escola valide os princípios de respeito desde cedo. É comum que as crianças menores
briguem com o argumento de não gostar uns dos outros, mas o educador precisa
apontar que todos devem ser respeitados, independentemente de se dar bem ou não
com uma pessoa, para que essa ideia não persista durante o desenvolvimento da
criança.
Quando o bullying ocorre entre os
pequenos, o educador deve ajudar o alvo da agressão a lidar com a dor trazida
pelo conflito. A indignação faz com que a
criança tenha alguma reação. ''Muitas vezes, o professor, em vez de mostrar como
resolver a briga com uma conversa, incentiva a paz sem o senso de injustiça,
pois o submisso não dá trabalho'', ressalta Telma Vinha, doutora em Psicologia
Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp).
20. O que é
bullying virtual ou cyberbullying?
É o bullying que ocorre em meios
eletrônicos, com mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails,
sites, blogs (os diários virtuais), redes sociais e
celulares. É
quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que as
pessoas envolvidas não estão cara a cara.
Dessa forma, o anonimato pode
aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão
graves ou piores. "O autor, assim como o alvo, tem dificuldade de sair de seu
papel e retomar valores esquecidos ou formar novos", explica Luciene Tognetta,
doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp).
Esse tormento que a agressão pela
internet faz com que a criança ou o adolescente humilhado não se sinta mais
seguro em lugar algum, em momento algum. Marcelo Coutinho, especialista no tema
e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que esses estudantes não
percebem as armadilhas dos relacionamentos digitais. "Para eles, é tudo real,
como se fosse do jeito tradicional, tanto para fazer amigos como para comprar,
aprender ou combinar um passeio."
21. Como
lidar com o cyberbullying?
Mesmo virtual, o cyberbulling
precisa receber o mesmo cuidado preventivo do bullying e a dimensão dos seus
efeitos deve sempre ser abordada para se evitar a agressão na
internet. Trabalhar com a ideia de que nem
sempre se consegue tirar do ar aquilo que foi para a rede dá à turma a noção de
como as piadas ou as provocações não são inofensivas. ''O que chamam de
brincadeira pode destruir a vida do outro. É também responsabilidade da escola
abrir espaço para se discutir o fenômeno'', afirma Telma Vinha, doutora em
Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
Caso o bullying ocorra, é preciso
deixar evidente para crianças e adolescentes que eles podem confiar nos adultos
que os cercam para contar sobre os casos sem medo de represálias, como a proibição de redes sociais ou celulares, uma vez
que terão a certeza de que vão encontrar ajuda. ''Mas, muitas vezes, as crianças
não recorrem aos adultos porque acham que o problema só vai piorar com a
intervenção punitiva'',explica a especialista.
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e adolescente/comportamento/bullying-escola-494973.shtml
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